segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

MONSTROS

Monstros- Exposição de Caricaturas é uma homenagem a alguns dos grandes artistas maranhenses que contribuíram e continuam contribuindo para o fortalecimento da cultura em nosso país, mas, infelizmente estão relegados ao esquecimento; muitos deles nunca foram sequer (re)conhecidos pelo grande público.

Artesãos, escultores, artistas plásticos, desenhistas, músicos, o que há de tão estranho nesse cenário nacional que impede esses “Monstros” de serem pelo menos ligados à sua arte? O mínimo seria ao menos reconhecê-los pela sua importância para a riqueza de nossa cultura.

Antonio Almeida - Artista Plástico


Antônio Almeida nasceu no povoado Jacaré, no município de Barra do Corda em 27 de maio de 1922. Filho de pai cearense e mãe piauiense é a síntese o homem nordestino. Nasceu em meio ao trabalho na roça e foi neste cenário que passou sua infância. Ao cinco anos viu pela primeira vez alguém desenhando. A cena o impressionou e despertou-lhe o interesse pela arte. Ele se considera um “intuitivo”; é um autodidata e desde que descobriu o talento para a arte visual, ainda em sua tenra infância, nunca mais parou. Olhava os elementos como pessoas, objetos, paisagens, gravava e depois reproduzia.
Ainda criança foi estudar em Barra do Corda, uma vez que onde morava não havia escola. Assim que aprendeu a entender o significado das palavras nos livros, sua sede por conhecimento não se esgotou. Lia e conhecia autores consagrados como Casimiro de Abreu, Castro Alves, Camões, tendo lhe impressionado especificamente a obra Os Sertões de Euclides da Cunha.
Já rapaz, sai de Barra do Corda com destino a Pedreiras. Lá continuou a produzir seus trabalhos, com especial atenção para as caricaturas. Gostava de reproduzir a fisionomia das pessoas, o que resultou em sua primeira exposição, num bar que costumava freqüentar. O resultado dos trabalhos não agradou muito os que foram retratados e isso lhe acarretou certo desconforto. De Pedreiras segue para Coroatá, onde embarca num trem Maria-Fumaça com destino à capital. Chegou aqui em 1944, aos 22 anos com pouco dinheiro no bolso e muita fome de conhecimento.

Em São Luís, os primeiros artistas com os quais teve contato foi Telésforo Moraes Rêgo e Newton Pavão, conhecidos como os velhos mestres, que reinavam aqui em matéria das artes plásticas, que o convidaram a participar do II Salão Artur, em dezembro de 1944. Seus trabalhos tiveram bom reconhecimento por parte do público e logo passou a fazer parte de um seleto grupo de artista que se reunia na “Movelaria Guanabara”, famoso ponto de encontro dos intelectuais da época. A partir de então Antônio Almeida não parou mais. Em dezembro de 1950, participa do 1º Salão de Pintura SCAM - Sociedade de Cultura Artística do Maranhão, recebendo o prêmio de 2º lugar, com a obra O cortiço. Após esse período, influenciado pelos artistas plásticos Matisse, Cézanne, Paul Klee, entre outros, rompe com a arte tradicional e segue um outro caminho, sedo imediatamente criticado por colegas e pelo público em geral.

Em 1952, participa do Salão de Artes Plásticas do Ceará e concorre com uma obra até então inédita para ele, seu auto-retrato. Esta obra acabou sendo considerada uma das mais célebres das artes plásticas no Maranhão, lhe rendeu a medalha de prata e o comparou ao pintor holandês pós-impressionista Van Gogh.

Em 1956 integra o grupo que organizou a revista Legenda, sobre a direção de José Chagas, tendo sua primeira ilustração como capa, bem como o conto “A Estranha Amante de Wagner”. Antonio Almeida diversifica seus trabalhos, produzindo aquarelas, guaches, inicia o trabalho com colagens bastante disputado por colecionadores. Descobre a pintura em grandes dimensões, dedicando sua atenção para a execução de painéis. A partir daí, propicia a uma explanação mais adequada sobre motivos populares, onde trabalha temática ligada a terra e aos costumes de nossa gente.
Em 1966, é convidado a criar uma logomarca para a Companhia de Águas e Esgotos do Maranhão – CAEMA. Aproximadamente em 1968, a pedido do escritor José Sarney, ilustra o livro de contos Norte das Águas, quando ele inova sua própria arte optando pela xilogravura.
Na década de 70, dando continuidade aos trabalhos em grandes dimensões, produz para Assembléia Legislativa um painel em madeira, composto por duas talhas; Em comemoração aos 50 anos do jornal O IMPARCIAL, em julho de 1976, fazia parte da programação a Mostra de Arte Pintura e Escultura, organizada por Nagy Lajos. Essa Mostra reuniu as maiores expressões da Artes Visuais da nossa cidade, e Antonio Almeida participa juntamente com Ambrosio Amorim, Maya Ramos, entre outros. Dando continuidade aos seus trabalhos em madeira na década de 80, produzindo mais obras de caráter público, pinta o mural da antiga Estação Rodoviária, situada na Alemanha, tendo o tema Populário. Em 1986 foi indicado a uma cadeira na Academia Maranhense de Letras, pelo então presidente da casa, Jomar Moraes. Nesta época doa para a AML, três obras entalhadas em madeiras, consideradas pelo próprio autor de extrema riqueza de detalhes. Obras estas, que infelizmente após reforma e reabertura da Academia em setembro passado, perderam lugar de destaque por terem sido transferidas para outros cômodos que não o salão principal.
Em 1987, apresenta à população maranhense seu grande painel de azulejos no prédio do BEM (atual Bradesco, na rua do Egito), causando admiração aos que transitavam pela praça João Lisboa. Dando continuidade a seus trabalhos em grandes dimensões, realiza um painel sulcado na parede da Associação Comercial em outubro de 1988. Com a mesma técnica de sulcado na parede, realiza outro grande painel no antigo prédio da agência do BEM, na avenida Kennedy (atualmente Secretaria da Fazenda do Município).
A partir de meado da década de 90, em decorrência do glaucoma e de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), perde a visão, deixa de desenhar, mas por ter uma mente inquieta começa a fazer poesias, as quais ditava para seus filhos netos e estes os transcreviam. Conseguiu publicar livros de poesias, como Rastros de procura (somente de poemas), também Sentimento Solto (poesia e prosa), organizou também com ajuda dos familiares e amigos Vida a Ir: Mensurando o Imensurável (poemas e prosas).
Hoje, aos 85 anos, o artista autoditada pintor, escultor, entalhador, gravador, muralistas e agora escritor encanta quem quiser ouvir suas memórias. Apesar da doença mantém uma memória altamente sagaz e não pára de pensar em versos e prosas para continuar encantando com sua arte.

Fonte: ANTONIO ALMEIDA: compreensão e análise de sua produção artística como referencial para o ensino da Arte. Geyse Soraia Moraes Ribeiro.São Luís. 2003; Entrevista com o artista

Aldo Leite - Teatrólogo



O teatrólogo Aldo Leite nasceu no município de Penalva em 1941, tendo se mudado para São Luís aos 11 anos. Na capital cursou todo o antigo ginasial e partiu rumo ao Rio de Janeiro, indo posteriormente para São Paulo onde cursou a faculdade de Teatro da USP. Em 1976 estréia sua peça mais famosa: “Tempo de Espera”.
O espetáculo chamou atenção de crítica e público pela sua originalidade. Nela, os atores não falam uma sílaba e apenas interpretam usando a linguagem corporal. A peça (sempre atual) retrata a vida do povo brasileiro no interior do nordeste, na busca incessante por dignidade imbuída em educação, saúde e respeito.
A idéia central da peça surgiu quando ainda muito jovem fazia teatro pelo interior do Estado, como integrante do grupo do extinto programa de Educação de Adultos, Mobral. Ao perceber a quantidade de analfabetos que havia por onde quer que o grupo passasse, foi fortalecendo cada vez mais a idéia de produzir algo onde os atores não pudessem se expressar com o que há de mais forte na comunicação de um povo, a língua falada. Entretanto, ao ser encenada na década de 70, coincidiu com o conturbado período da ditadura, e a falta de palavras fez uma referência direta à censura.
Após ser apresentada no Brasil, “Tempo de Espera” foi encenada em vários países tendo sido agraciada em 1977 com dois prêmios Molière. Foi reconhecida também através dos prêmios Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte e ainda representou o Brasil no Festival Internacional de Teatro de Nancy (França).
De volta a São Luís, no final da década de 70, Aldo Leite ingressa na Universidade Federal do Maranhão, no departamento de Artes, onde está até hoje.
Em relação a “Tempo de Espera”, segundo Aldo Leite, brevemente a peça será montada novamente no Rio de Janeiro e na cidade de Coimbra, em Portugal.

Fonte: entrevista com o próprio artista

Fernando Gallas - Artesão


FERNANDO GALLAS
Natural de São Luís nasceu em 1935 em uma família de 5 irmãos e vivia mudando-se de cidade por conta da profissão do pai (antigo fiscal do Imposto de Consumo), mudou-se ainda criança, com 3 anos, para a Bahia. Morou ainda em Pernambuco, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. Apesar da distância da terra natal, sempre voltava para visitar os parentes, pelo menos uma vez por ano. Por volta dos 15 anos, pediu para a mãe matriculá-lo num curso livre de arte em Salvador, onde estudou até os 21 anos, tendo sido seus professores, os mestres Calazans Neto (artista plástico baiano falecido em 2006), Carybé (Hector Julio Páride Bernabó – artista plástico, pesquisador, historiador e jornalista argentino naturalizado e radicado no Brasil), Mário Cravo (referência da arte Moderna baiana nas décadas de 40 e 50) e Floriano Teixeira (artista plástico autodidata, outro “monstro” maranhense). Aos 22 anos ingressa na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, cursando administração, arquitetura e belas artes.
Profissionalmente fez um pouco de tudo nas ares de comunicação e publicidade. No final da década de 60 foi chamado para ser prefeito do Campus da Universidade Católica de Salvador (UCSAL). No mesmo período exerceu o cargo de diretor industrial de uma fábrica de cigarros, onde ficou responsável pela área de embalagens desenvolvida na gráfica da própria fábrica. Como havia feito um curso sobre o então inovador sistema de impressão offset ,fora contratado por alguns matutinos baianos para implantar e cuidar inicialmente da parte gráfica dos jornais.
Como prefeito de Campus – cargo exercido por oito anos --, teve contato com reitores de outras universidades brasileiras, inclusive a Federal de Pernambuco, foi quando conheceu o então programa de extensão “Ouvir o Fazer”, que fomentava a produção dos artesãos ceramistas pernambucanos. A partir daí partiu o interesse e produzir peças em cerâmicas. Para conhecer um pouco mais sobre a arte, no início dos anos 70 parte para a pesquisa de campo, quando adquire conhecimento na área de cerâmica. Deixa a universidade para se dedicar à carreira de artesão; numa tentativa de ter seu trabalho reconhecido, logo após ter saído da UCSAL, montou suas peças numa barraca de praia e foi mostrar suas peças no bairro Campo Grande, em frente ao Teatro Castro Alves (tido como o mais importante centro artístico de Salvador). Por conta deste episódio, os jornais publicaram uma matéria sobre a mudança repentina de vida de Fernando Gallas e algumas pessoas chegaram a pensar que ele havia enlouquecido.
Como artista, participou de diversos seminários, congressos e feiras, dentro e fora do país. Foi indicado para representar artesanato na ocasião da extinção do Programa Nacional do Artesanato, no governo Collor, em 90, e em seguida para a implantação do Programa do Artesanato Brasileiro. Representou ainda o artesanato brasileiro em encontros em Cuba e no México por indicação da Unesco. Numa de suas exposições, desta vez na Bienal de São Paulo, em 1990 chamou a atenção de uma executiva da (joalheria) H. Stern. Esse contato lhe rendeu um contrato de exclusividade de cinco anos com a empresa e suas puderam ser vista em todas as lojas H. Stern do Brasil. No entanto, em 1999, Fernando Gallas decide voltar definitivamente para o Maranhão. Após ter conquistado o mercado do artesanato na Bahia, o artista sofre uma desilusão pessoal, larga tudo inclusive sua oficina de produção com seus funcionários e volta para o acalanto de sua terra natal. Aqui chegando conheceu o artesanato no Ceprama, trocou experiências, foi contratado como instrutor de artes pelo Sebrae, foi o único artesão a expor uma mostra de miniaturas em cerâmica durante o Circuito Cultural Banco do Brasil em São Luís, no ano de 2004. Atualmente, aos 72 anos vive na Morada das Artes, na Praia Grande produzindo souvenires para lojas de artesanato.

Fonte: Entrevista com o artista e catálogo H, Stern

Joacy Jamys - Cartunista


Joacy Jamys
Nascido no Rio de Janeiro em 9 de setembro de 1971, chegou no Maranhão ainda muito jovem, aos 14 anos e daqui fez sua terra. Trouxe na bagagem muita disposição para fazer quadrinhos na mais variadas vertentes e música. Foi desenhista, argumentista, adaptador/tradutor, editor de fanzines e vocalista de banda punk. Anarco-punk por natureza dividia seu tempo na produção e na divulgação dos quadrinhos maranhenses.
Junto com Iramir Araújo, Beto Nicácio e os irmão Rômulo e Ronilson Freire, fundou o grupo SingularPlural, referência dos quadrinhos no Maranhão; com o grupo chegou a publicar duas revistas genuinamente maranhenses: Fusão e Fúria. Seus principais trabalhos foram O velho farol (orginalmente publicada in Ervilha #01, SP), série Contos fictícios, Dronn o mercenário, tiras Não Sistema.
Respeitado no mundo underground, possuía mais de 500 páginas de HQs desenhadas e inúmeras séries. Em 1990 teve sua primeira história publicada no exterior (publicou em Portugal, na Polônia e na Espanha) e em dezenas de fanzines brasileiros. Foi instrutor de cursos de HQ, tiras, cartuns, desenho e fanzines; editou os fanzines Legenda (a partir de 1986), Legenda Comix, Grito Punk, Não Sistema! Entre outros. Profissionalmente era webdesigner, ilustrador, designer e artista gráfico. Era também vocalista da banda Última Marcha.
Vivia trocando informações com “feras” dos quadrinhos nacionais e possuía um site o qual atualiza continuamente com notícias referentes ao universo dos quadrinhos. Seu trabalho foi reconhecido no cenário nacional ao ser indicado ao Troféu HQMix 2006 (considerado o Oscar dos quadrinhos brasileiros) nas categorias “Desenhista Revelação” e “Melhor Site de Quadrinhos”. Coincidentemente foi um dos ganhadores do Prêmio Universidade FM, edição 2006, cuja premiação aconteceu quando estava em coma num hospital.
Tinha verdadeira paixão por quadrinhos. Em uma entrevista para o site Nona Arte (www.nonaarte.com.br), quando perguntado sobre a situação dos quadrinhos no século 21, sobre ser consumido em bancas, livrarias ou pela internet, respondeu o seguinte: “Os três. E as ruas? Não esqueça. Eu coloco meus zines nas ruas pra vender, nas praças...o autor/editor tem que sair do estúdio e ir ao público também. É difícil conciliar. Mas, a banca está caindo. A livraria, como disse Peter Kupper (USA), é a saída da HQ underground nos Estados Unidos. Temos que invadir as livrarias também, mas não com os preços absurdos que estão cobrando, pois HQ brasileira de qualidade virou artigo de luxo. O virtual é agilidade, difunde pro mundo inteiro. A Nona Arte é um exemplo claro disso, tanto que "copiei" e fiz meu site, que ta (sic) surtindo ótimos resultados.”
No dia 4 de dezembro de 2006 sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e ficou em coma por 12 dias. Faleceu no dia 16 do mesmo mês, deixando órfãos não só seu filho biológico, mas dezenas de pessoas ligadas às mais diversas formas de artes.

Fonte: www.nonaarte.com.br; entrevista com amigos.

Ambrósio Amorim - Artista Plástico


AMBRÓSIO AMORIM

Nascido em Codó em 1922, Ambrósio Amorim foi contemporâneo de Antônio Almeida e também um dos integrantes da Movelaria Guanabara, importante ponto de encontro de intelectuais da década de 40. Teve seus trabalhos expostos pela primeira vez em 1946; em 1947 participou do 2º Salão Artur Marinho, sendo o segundo colocado na premiação; para aperfeiçoar seus estudos nas artes plásticas, viajou para o Rio de Janeiro onde residiu por vários anos e estudou na Escola Nacional de Belas Artes.
De volta São Luís deu continuidade ao seu trabalho tendo como referência a paisagem urbana da capital e dando destaque a personagens da periferia da cidade. No final da década de 70 passou a integrar o corpo docente do Centro de Artes e Comunicações Visuais do Estado (Cenarte) – atual Centro de Criatividade Odylo Costa Filho – onde lecionou pintura a óleo. Dentre suas criações, destaca-se a logomarca do maranhensíssimo Guaraná Jesus. Morreu em 2003 aos 81 anos.

Fonte: ARTE DO MARANHÃO 1940-1990. Banco do Estado do Maranhão. São Luís, MA, 1994.

Dila - Artista Plástica


DILA

Nasceu Dileuza Diniz Rodrigues, no município de Humberto de Campos, em 1939. Seu primeiro contato com as artes foi num convento, quando trabalhou por cinco anos restaurando peças, pintado objetos e cuidando de flores. Autodidata, iniciou a carreira de pintora em São Paulo nos idos de 1968, no Instituto Cultural Brasil-Argentina. Neste mesmo período realizou suas duas primeiras exposições individuais.

Uma das mais fortes expressões da arte naïf do Brasil, Dila consegue passar através de suas telas tanto experiências urbanas, quanto rurais, sendo seu forte o cenário mais interiorano, com seus festejos e tradições. A partir dos anos 70, mostrou seu trabalho em importantes exposições coletivas em diversos países e obteve reconhecimento internacional por seus quadros representados em litografias aquareladas e em óleos sobre tela.

No Brasil, expôs seus trabalhos em estado como São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Distrito Federal, Ceará e claro, Maranhão. No cenário internacional participou de exposições na Argentina, Estados Unidos, Colômbia, França, Marrocos e Portugal.

Sobre a pintora, o jornalista e mestre em artes visuais pelo Instituto de Artes da UNESP de são Paulo fez o seguinte comentário:
“A pintora Dila estabelece o seu lugar na arte brasileira justamente pela maneira como trabalha seus temas. Une o detalhe delicado e precioso a um senso de equilíbrio global, que torna cada quadro uma festa para os olhos e uma delícia para os sentidos. Isso é atingido pela maneira elaborada de compor cores e formas, num resultado que cativa desde o primeiro momento e gera uma admiração que só aumenta a cada olhar mais atento.”

Atualmente Dila reside em São Luís e continua produzindo seus belos trabalhos.


Fonte: ARTE DO MARANHÃO 1940-1990. Banco do Estado do Maranhão. São Luís, MA, 1994; Catálogo da pintora.

Newton Sá - Escultor


NEWTON SÁ
Nasceu em Colinas a 3 de agosto de 1908. Aos 16 anos já era possível notar seu talento para a escultura. Manteve vários contatos com a comunidade artística da época, especialmente com Telésforo de Moraes Rego, Newton Pavão, Rubens Damasceno e Arthur Marinho.
Em 1927, então com 19 anos, já havia produzido muitas peças e mantinha um ateliê na Rua Afonso Pena, nº 6. Em 1928 e 1929 viajou para o Rio de Janeiro com o intuito de aperfeiçoar seu trabalho. Além de escultor, Newton Sá foi professor de desenho e trabalhos manuias da Escola Normal de São Luís.
Em 1934 expôs no Salão do Café da Paz, em Belém (PA) obtendo boa aceitação através da crítica local. De volta a São Luís ganhou uma bolsa para estudar no Rio de Janeiro.
Em 1938 foi nomeado membro correspondente do Maranhão pela Academia de Artes e Ciências do Rio de Janeiro. Foi também membro efetivo da Sociedade Brasileira de Belas Artes.
Teve várias premiações no Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro; medalha de bronze pela peça Busto do General Rondon , no salão de 1939, medalha de prata com o trabalho Mãe D’água amazônica no salão de 1940 (existe uma cópia desta peça na Ilha do Governador –RJ).
Além de esculturas, Newton Sá produziu caricaturas e ilustrações para jornais das décadas de 20 e 30.
O descaso do poder público e da própria população foi responsável pelo desaparecimento da maioria das obras de Newton Sá. Muitas foram destruídas e outras estão em péssimo estado de conservação.
A Mãe D’água amazônica (que pode ser vista na fonte da Praça da Sé) foi o último trabalho de Newton Sá em 1940 e concluiu a belíssima produção de suas obras. O artista morreu no final do mesmo ano.

Fonte: A obra escultórica de Newton Sá. Raimunda Fortes. Siciliano. São Paulo. 2001

Celso Antonio de Menezes


CELSO ANTONIO SILVEIRA DE MENEZES
Um dos maiores escultores do modernismo brasileiro, nasceu no dia 13 de julho de 1896 em Caxias. Aos 16 anos parte rumo ao Rio de Janeiro para estudar no curso de Desenho na antiga Escola Nacional de Belas Artes, através de uma bolsa de estudos concedida pelo então governador do Maranhão, Urbano Santos.
Uma vez na cidade maravilhosa passa a freqüentar o ateliê do escultor Rodolfo Bernadelli, localizado no bairro do Leme e inicia a produção de suas primeiras esculturas, despertando o interesse no meio artístico e lhe rendendo alguns prêmios. Por conta disso recebe outra bolsa de estudos, desta vez do governador Godofredo Viana que o envia a Paris em 1923. Lá passa a freqüentar a Académie de La Grande Chaumiere e torna-se discípulo e, em seguida, auxiliar de Antoine Bourdelle, grande nome da escultura contemporânea.
Retorna ao Brasil em 1926, fixando residência em São Paulo. Por indicação de Di Cavalcanti esculpe o Monumento ao Café, situado na Praça Pará, em Campinas. Elabora as esculturas do presidente do Estado, Carlos de Campos e da Lídia Piza Rangel Moreira, no Cemitério da Consolação. Em 1930 vai morar no Rio de Janeiro convidado por seu companheiro de escola Lúcio Costa para lecionar na cadeira de Estatuária na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1934 foi professor do Instituto de Artes da antiga Universidade do Distrito Federal, juntamente com Cândido Portinari que ali lecionava pintura. Em 1940 executa em pedra a escultura Moça Reclinada para os jardins suspensos do gabinete no antigo Ministério da Educação e Saúde (MEC). Nesse período também executa a obra Maternidade que se encontra na praia do Botafogo.
Por solicitação do então ministro do Trabalho Honório Monteiro, esculpiu a estátua do Trabalhador Brasileiro, personificando na obra a força e a raça do homem brasileiro, idealizado por ele através de um negro. A obra, no entanto não agradou o público e foi esquecida por mais de 20 anos em depósito, tendo sida colocada muito tempo depois num pedestal no Horto Florestal, no bairro do Barreto em Niterói (RJ).
Morreu em 1985. Quatro anos depois o escritor Otto Lara Resendo (1922 – 992) divulgou um manifesto que reclamava o reconhecimento de Celso Antônio de Menezes, tido por ele e por muitos outros como um artista de singular valor. “Celso Antônio, tendo vivido e trabalhado num momento de renovação cultural em todas as frentes, foi um grande artista inovador. (...) o grande artista teve ao seu lado as melhores inteligências e sensibilidades do seu tempo. (...) Tudo o que se fizer em favor de Celso Antônio, a partir de agora, é justo e oportuno. Chega tarde, mas ainda chega a tempo de saldar uma dívida que o Brasil tem para com esse extraordinário artista”.

Fonte: ARTE DO MARANHÃO 1940-1990. Banco do Estado do Maranhão. São Luís, MA, 1994.

Maria Firmina dos Reis


Maria Firmina dos Reis (1825 – 1917) nasceu em São Luís, no dia 11 de outubro de 1825 sob duas condições que por si só já seriam capazes de exaurir qualquer futuro de uma mulher num país escravocrata. Era mulata e bastarda. Apesar disso, Maria Firmina rompeu com o sistema vigente e estudou até se “formar” professora. Aos 22 anos venceu o concurso público para a “Cadeira de Instrução Primária”, na cidade de Guimarães. Durante grande parte de sua vida, dividiu-se em duas pessoas: uma a professora e a outra, a escritora, sendo esta última a que mais se destacou. Maria Firmina escreveu e publicou por muito tempo, crônicas, poesias, ficção e até charadas. Mulher inteligente e culta teve participação relevante no cenário cultural nacional, atuando também como folclorista e compositora, tendo sido, inclusive, responsável pelo hino da Abolição da Escravatura.

Como romancista teve duas grandes publicações: Gupeva, de temática indianista, publicado em 1861 e Úrsula, publicado em 1859. Este último configura-se como o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira. Nele, a autora aborda a escravidão a partir do ponto de vista do negro. Para fugir da repressão que era comum na época, Maria Firmina assinou a publicação com o pseudônimo “Uma Maranhense”. Se já é difícil publicar um livro nos dias atuais, imagine esse cenário em pleno século 19, ainda mais para uma mulher, negra e nordestina. As dificuldades eram imensuráveis. Até por isso e por outros motivos, o livro Úrsula só veio a público em 1975, através dos estudos de Horácio de Almeida e de Nascimento Morais Filho, grande pesquisador das obras da romancista.

Maria Firmina foi uma mulher à frente de seu tempo que rompeu a barreira do preconceito, fundamentado no racismo e no machismo, e mostrou para o mundo a importância da literatura maranhense. Ao contrário do que era vigente na época, quando os homens, brancos e ricos iam para a Europa, estudar nas melhores faculdades, Maria Firmina provou que a busca pelo conhecimento não tem fronteiras físicas e deu ao mundo um romance recheado de denúncia de injustiças arraigadas na sociedade patriarcal brasileira e que tinham no escravo e na mulher suas principais vítimas.
Morreu em 1917, aos 92 anos sem ver sua principal obra reconhecida pelos intelectuais da época.

Fonte: Nascimento Morais Filho

Reginaldo Fortuna


Reginaldo José de Azevedo Fortuna nasceu em São Luís no dia 21 de agosto de 1931. Considerado um dos maiores cartunistas do Brasil, ainda criança conheceu o semanário A Manhã, sendo uma de suas publicações favoritas. Mudou-se com sua mãe para o Rio de Janeiro após perder o pai, aos 14 anos. Seus primeiros trabalhos na imprensa foram publicados no final da década de 40 na revista infantil do Sesi, Sesinho, A Cigarra e Revista da Semana.
No final da década de 50 o estilo inconfundível de Fortuna apareceria nas belíssimas páginas da revista Senhor. Em 1964, às vésperas do golpe militar e em parceria com Millôr Fernandes, Ziraldo, Jaguar, Claudius, Sérgio Porto, lançam o quinzenário colorido O Pif-Paf, publicação que sobreviveu até o oitavo número e serviu de base para o mais importante jornal de oposição à ditadura, O Pasquim. Nessa época também foi chargista no jornal carioca Correio da Manhã. Quando o Correio da Manhã foi extinto no final dos anos 60, eis que surge O Pasquim, produzido por Fortuna, Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Ziraldo, Paulo Francis, Luis Carlos Maciel, o novato Henfil e dezenas de outros colaboradores.
No início dos anos 70 Fortuna mudou-se para São Paulo e assumiu o posto de diretor de redação da revista Cláudia, onde passou a dar conselhos às leitoras sob o pseudônimo Ana Maria. Em seguida tornou-se editor de arte e capista da (revista) Veja, onde ficou até 1975. Nesta mesma época em contato Luiz Gê, Paulo e Chico Caruso, Laerte, Cláudio Paiva e Nani, lançam o quadrinho O Bicho e surge com a personagem “Madame e seu bicho muito louco”.
Em 77 Fortuna vai para A Folha de São Paulo fundar com Tarso de Castro o suplemento “Folhetim”, uma espécie de pasquim encartado no próprio jornal. A partir daí inicia uma nova fase como chargista editorial. Fortuna saiu da Folha em 84, logo depois da campanha das Diretas, e ficou um longo tempo fora da grande imprensa, retornando com charges semanais para a Gazeta Mercantil.
Foi considerado um dos 100 melhores cartunistas do mundo em 1977 pela Casa do Humor e Sátira de Gabrovo, da Bulgária.
Fortuna morreu aos 63 anos de um fulminante ataque cardíaco, no dia 5 de setembro de 1994, em São Paulo.

Fonte: www.vermelho.org.br/museu/principios/anteriores.asp?edicao=35&cod_not=835 - 45k -

Érico Junqueira


ERICO JUNQUEIRA AIRES

Nasceu em Salvador (BA) em 1948 e saiu de lá com destino ao Maranhão aos oito anos, indo diretamente para Balsas. Autodidata, naquela época ainda não havia descoberto o seu talento para o desenho. Foi saber que possuía o dom somente aos 11 anos, andando por uma praça de Caxias e deparando-se com uma banca de revistas. Nunca em sua vida tinha vista nada igual. Aquele mundo de cores e formas através de uma revista, tendo resolvido adquirir a que mais lhe chamara atenção, a (extinta) Amigo da Onça.

Já em São Luís, ainda na adolescência desenhava tudo que pegava, sempre se baseando em sua grande paixão: os quadrinhos. Já rapaz conhece o então ilustrador do Jornal Pequeno e com ele alarga seus horizontes em relação a ilustração. Aos 18 anos, consegue seu primeiro emprego, na Secretaria de Agricultura e é lá que faz seu primeiro trabalho, uma charge na extinta revista Legenda. Ao ver seu trabalho publicado sente um imenso orgulho de si mesmo e busca se aperfeiçoar cada vez mais. Paralelamente ao desenho, estudava e trabalhava. Depois da Legenda publica suas charges na revista Baú de Cartoons e lá conhece o jornalista Cordeiro Filho.

Foi a convite de Cordeiro Filho que Érico participa de sua primeira exposição, na década de 70. Essa mostra foi censurada porque os conservadores da época a acharam imoral.Para adquirir experiência começa a enviar seus trabalhos para salões fora do Estado.

O primeiro foi o Salão Mackenzie de Humor, o qual tomara conhecimento através de O Pasquim. Já na década de 80 envia um cartun para o Salão de Humor do Canadá e tem o prazer de ver seu material publicado no catálogo do Salão. Além dos salões publicou charges em nos jornais cariocas O Pasquim e Hora do Povo, e nos pernambucanos O Povo e Jornal do Commercio.

Participou de centenas de salões de humor espalhados pelo mundo, tendo conquistado cerca de 85 prêmios desde a década de 80. Segundo ele, a média de prêmios é de 10 por ano. Esse ano já recebeu sete e está a espera de alguns outros resultados. Prefere participar de salões internacionais por achar mais interessantes, uma vez que sempre concorre com artistas de vários países. No Brasil, destaca os salões de Piracicaba e do Piauí como os mais importantes. Por conta de seus excelentes trabalhos já foi chamado para participar do júri de um salão até na França.

Sua produção é incessante e não atrapalha sua atuação profissional. É graduado em Engenharia e professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual do Maranhão e do Departamento de Desenho Industrial da Federal do Maranhão.

Atualmente uma polêmica gira em torno de um cartunn seu, o qual foi premiado no Rio Grande do Sul. Ele enviou este mesmo trabalho para concorrer em um salão no Oriente Médio, e teria sido plagiado por um artista indiano que participou num salão na Indonésia. A descoberta foi feita pelo próprio salão da Indonésia, que entrou em contato com ele para lhe avisar sobre a “semelhança”.

Fonte: entrevista com o artista

Preto Ghóez


Natural de São Luís, Márcio Vicente Góis ficou mais conhecido como Preto Ghoéz. Passou sua infância na periferia e catou muito caranguejo nos mangues da capital. Viveu na pele como é passar por uma instituição de reparação para menores infratores, oportunidade que fortaleceu sua veia artística na área musical, com forte tendência para o Hip Hop, influenciado diretamente pelas letras das músicas dos Racionais MC e pela biografia de Malcolm X.
Dentro do Hip Hop, militou por oito anos, a partir de 1993, no grupo Quilombo Urbano, de São Luís, uma das organizações mais politizadas e atuantes do movimento, e fez parte de vários outros grupos, como o Skina e o Milícia Neopalmarina. Foi um dos vocalistas do Clã Nordestino, que com o CD A peste negra do Nordeste, recebeu o "Prêmio Hutus" de Hip Hop na categoria revelação (o prêmio é considerado o maior do gênero na América Latina e elege os melhores do Hip Hop Nacional).
Poeta e rapper, como militante foi um dos líderes do Movimento Hip Hop Organizado do Brasil (MHHOB), uma das organizações nacionais do setor. Foi também um dos idealizadores, em parceria com o Ministério da Cultura, do projeto "Fome de Livro na Quebrada" – que visa fomentar e fortalecer a cultura nacional e regional do Hip Hop através da sala de leitura --, implantado em outubro de 2004 em oito cidades brasileiras.
Três meses ante de falecer, Ghoéz passou a integrava um grupo de trabalho destinado a desenvolver parcerias entre ações do governo e o movimento Hip-Hop. O grupo foi criado a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sendo composto de representantes do movimento Hip-Hop de todo o país, além de membros do governo.
Preto Ghoéz faleceu aos 32 anos, vítima de acidente de carro no dia 9 de setembro de 2004, em Santa Catarina

Fonte: Ministério da Cultura